segunda-feira, 15 de junho de 2015

Guia para professor@s sobre a Síndrome de Tourette - Parte 1


O post de hoje é bem direcionado. Trata-se de uma carta do Laboratório de Neuropsicologia Clínica, setor de Neurociências, da Universidade Federal Fluminense. A carta foi elaborada pela Tourette Syndrome Association. Na verdade, trata-se de um folheto intitulado “Na Educator a Guide to Tourette Syndrome” , traduzido por Mauro Fernando Cardoso Lins (Acadêmico de Medicina da UFF e Bolsista de Iniciação científica do CNPq) e ao qual estou chamando de carta pra nós professores. Este material foi a mim apresentado pelo Fred, de quem falei nos posts anteriores e que é pai de uma criança com ST.

Por se tratar de um  texto longo, preferi, nesse espaço, condessar as informações e ilustrá-las a fim de que a leitura não termine sendo cansativa. Seu conteúdo será divido em três posts diferentes, esse e mais outros dois. Porém, aos que desejarem, a carta encontra-se, na íntegra, no site da Associação Brasileira de Síndrome de Tourette, Tiques e Transtorno Obsessivo Compulsivo (ASTOC).

Espero que esse texto chegue ao maior número de escolas, de educadores, de pais, de alunos e alunas que ainda enxergam os tiques como simples manias ou comportamentos bizarros que não cabem em lugares públicos. Boa leitura!



"Senhor Professor:

É possível que você nunca tenha ouvido falar em Síndrome de Tourette.

Entretanto, esta síndrome engloba uma série de sintomas que podem afetar consideravelmente o desempenho de uma criança na escola, tanto em termos acadêmicos quanto em nível de comportamento. Portanto, torna-se importante que você saiba um pouco sobre o problema. A sua motivação em tomar conhecimento da Síndrome de Tourette através deste folheto já representa um grande passo no objetivo de ajudar ao máximo a criança portadora desta síndrome. Os pais, a criança, os profissionais médicos e para-médicos e, especialmente, os professores, todos trabalhando em equipe, podem assegurar que as crianças com este distúrbio atinjam todo o seu potencial.

Este folheto é organizado em três seções. A primeira descreve a Síndrome de Tourette – suas causas, sintomas e tratamentos. Na segunda parte, sugestões são oferecidas para professores e demais profissionais da escola (orientadores, psicólogos, por exemplo) compreenderem as necessidades específicas algumas perguntas, com sugestões de respostas, comumente colocadas por professores que lidam com crianças com a Síndrome de Tourette e duas famílias.


UMA SITUAÇÃO POSSÍVEL


Uma criança em sua classe causa perplexidade. Ela é inteligente, amigável, ansiosa em agradar, geralmente bem comportada e educada. Entretanto, sem nenhum motivo aparente, ela perturba a aula com roncos desagradáveis. Ela também pisca os olhos constantemente, apesar do médico de olhos afirmar que ela não precisa de óculos, e também persiste em se mexer muito no assento. Você já falou com a criança e com os pais dela sobre este comportamento, porém ela continua a apresentá-lo. Você para e pensa: Será que ela está chamando a atenção porque seus pais se separaram há pouco tempo? Será que está muito ansiosa em relação a alguma coisa? Ou será que apresenta algum problema emocional que não parece óbvio? Finalmente, algum médico sugere que esta criança possa ter a Síndrome de Tourette."


Você pode conhecer mais sobre o que é a Síndrome de Tourette lendo o post Síndrome de Tourette, você sabe o que é isso? ou acessando a esta carta da ASTOC na íntegra.


"O QUE CAUSA A SINDROME DE TOURETTE?

Até recentemente, as pessoas com a ST e suas famílias sofriam muito já que a razão do seu comportamento estranho não era compreendida pela comunidade médica. A maioria recebia um diagnóstico incorreto e tratamentos inapropriados, e os médicos diziam que elas tinham um problema causado por uma variedade de distúrbio neurológico, com sintomas associados que afetam o comportamento. É muito bom que os professores conheçam os sintomas deste distúrbio, já que os educadores frequentemente se encontram na melhor posição para observar o comportamento de uma criança por períodos de tempo prolongados.

Atualmente é aceito que a ST, juntamente com alguns problemas associados, é um distúrbio genético. É comum encontrar um ou mais tiques motores ou comportamentos associados no distúrbio em membros da família do paciente. Os pais destas crianças freqüentemente têm sentimentos de culpa por terem transmitido este problema a seus filhos, como ocorre com todos os distúrbios geneticamente transmitidos. É importante ser sensível a isso ao conversar com os pais."


Farei uma pausa na leitura da cartilha da ASTOC, por considerar importante também apresentar a fala de alguns pais e mães sobre suas impressões acerca da ST. Abaixo, alguns diálogos e depoimentos. Só lembrando que não utilizarei os nomes, mas suas iniciais ou nomes fictícios, salvo quando se tratar do nosso amigo Fred que já autorizou sua presença e a de seu filho aqui no nosso blog:

Um papo sobre a dificuldade de aprendizagens das crianças com ST e sua inteligência:

GC (mãe de uma criança com ST): O neuropediatra para o qual levei perguntou se ela tinha dificuldade de aprendizado. Quando comecei a ler sobre a síndrome sempre tinha algo falando da dificuldade de leitura para quem tem a ST. Mas agora também "vejo" falar muito que quem tem a ST é muito inteligente.

Fred: Inteligência sem X inteligência com.... melhor com... melhor sem... No entanto, somos pais premiados por nosso Deus e cuidamos deles feito leões e leoas. A dificuldade existe sim, e muito, porém, só quando encontramos o caminho de centralizar o mal é que descobrimos o quanto eles tem esse diferencial.

GC: Verdade. A leitura é considerada um forte aliado como uma terapia de melhora dos tiques, insistam com seus filhos.




Voltemos à cartilha:


TRATAMENTO DA SÍNDROME DE TOURETTE


Quando os tiques são discretos, a criança pode ser diagnosticada e não necessitar de tratamento médico. A aceitação do fato de que os sintomas e comportamentos estão fora do controle da criança e não são propositais, e algumas vezes suficientes para permitir que a criança funcione confortavelmente na escola e em casa. Também pode ser útil informar aos pais e aos colegas de turma sobre a ST, a fim de que eles possam entender o motivo dos tiques.

Em alguns casos, entretanto, os tiques podem incomodar tanto a criança a ponto de tornar aconselhável o tratamento médico. Infelizmente não existe uma “pílula mágica” capaz, ao mesmo tempo, de abolir os sintomas e não apresentar efeitos colaterais prejudiciais à criança. Muitas das medicações utilizadas atualmente podem apresentar sérios efeitos colaterais, sendo mais comum ganho de peso, sonolência e “lentidão de raciocínio”. 

Além destes, também pode ocorrer inquietude, sintomas depressivos, fobia à escola ou até mesmo reações alérgicas graves. Assim sendo, as medicações capazes de ajudar também apresentam o potencial de tornar a criança sonolenta ou menos apta a se concentrar e aprender na escola. As medicações, embora reduzam os sintomas, raramente os eliminam por completo. Portanto, cabem os pais e médicos decidirem se os benefícios da medicação superam os efeitos indesejáveis. A informação sobre o funcionamento da criança no dia-a-dia na sala de aula é fundamental para este processo de decisão, sobre a necessidade de medicação.


Pergunta: Onde posso conseguir mais informações sobre a ST?
Resposta: Escreva para:

Prof. Dr. Gilberto Ne Ottoni de Brito
Laboratório de Neuropsicologia Clínica
Setor de Neurociências
Instituto Biomédico – UFF
Rua: Hernani Mello, 101
Niterói, RJ
CEP: 22401-000"

No próximo post, os distúrbios comuns aos portadores da ST e que muito podem representar um empecilho para o processo de aprendizagem da criança com esta condição.

Você também pode ler mais sobre o assunto. Basta um clique:


Até a próximo!





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